A palavra da moda é empreendedorismo e, como toda moda, a gente acha que todo mundo deve seguir. Sim, no começo você fica tão empolgado com a ideia, assiste a tantos vídeos de grandes nomes no ramo, lê muitos livros falando de pai rico e pai e as intermináveis biografias de A a Steve Jobs.
Quer convencer todo mundo de que deve largar o emprego CLT e seguir sonhando nessa empreitada: – “Olha aqui essa sacada!” e lá vai mais um áudio para o grupo de amigos no Whatsapp.
E toda essa empolgação é fundamentada em muita pesquisa, pois esse texto pretende falar, sobretudo, com o professor empreendedor.
Talvez sejamos o perfil mais desconfiado nesse meio do empreendedorismo e isso é fácil de explicar: talvez sejamos também os profissionais mais apaixonados e quem ama, desconfia.
E por amar demais nossa área, mergulhamos. E mergulhamos fundo.
E tomamos muito cuidado, porque nosso “produto” não é acabado, não pode ser embalado para produção em série, igualzinho, com lindas etiquetas vermelhas e laços azuis, com os dizeres “servimos bem para servir sempre”.
Nosso produto também depende de quem o compra para ter algum sucesso.
Aquele modelo encaixotado das escolas não nos atendia mais e devo fazer aqui uma observação, já desconstruindo a ideia inicial desse texto, a de que todo mundo deveria empreender: não, não deveria.
E está tudo bem com isso.
Talvez os colegas que trabalhem como funcionários tenham até mais “jogo de cintura” no trato social do que quem decide ser autônomo e sejam mais disciplinados ao aplicar o método proposto pela empresa que os contratou.
Já fiz essa autoanálise profissional. Então, está tudo bem trabalhar com “carteira assinada”.
Mas, se assim como eu, você se identifica com o empreendedorismo, tenha em mente que antes de tudo é preciso muita autoanálise.
Afinal, quando você deixa o que conhecia e o que era para se jogar, numa empreitada solitária, você deve olhar muito mais pra si mesmo do que pra fora.
Sim, há modelos, há fórmulas, há pessoas te ajudando a enxergar mais longe, há livros, há redes de apoio, há um mundo de conhecimento que faz muita diferença e que não deve ser descartado.
Mas nada fará muito efeito se você não descobrir, dentro de você, o que você quer, o que não quer, o que tem a oferecer e que significado dar a seu trabalho dentro do que você reconhece como sendo uma vida de qualidade.
(e aqui deixo claro que são valores muito subjetivos e intransferíveis, cada um tem seu modelo de vida feliz).
Há uma certa dificuldade inegável quando falamos de “olhar para dentro de si e buscar o modelo que se quer seguir” já que não fomos treinados para isso.
A todo momento, desde crianças, nos dão cópias, cronogramas e programações que devemos executar, sem pensar muito, sem avaliar se vale a pena, obediência plena sem pestanejar ou questionar.
Quem, como eu, já trabalhou anos em escolas tradicionais, sabe do que estou falando.
E aí, um belo dia, decidimos que vamos trabalhar sozinhos, fazer do nosso jeito e no nosso ritmo e…
O mundo cai em nossas costas e não temos mais modelos!
Você pode seguir o que um outro colega faz, o que o bam bam bam do empreendedorismo faz, o que a reza do Papa fala pra fazer e, ainda assim, não dá certo.
É preciso se autoconhecer para não se frustrar quando as coisas não saírem como você esperava e isso não é papo de hippie.
Por isso, nesse artigo vou te guiar por três fases pelas quais passamos ao empreender, e que não há como pular, pois isso seria praticamente voltar as casas que você já andou no tabuleiro.
Preparado? Vamos lá!
1ª Fase do jogo: saber o que você não quer
Muito mais importante do que saber o que você quer e onde quer chegar, é saber o que você não quer.
Fazer um mergulho interior toda vez que alguma situação profissional te incomodar.
É ali que você deve trabalhar, é nesse ponto que você deve agir.
Um exemplo prático é que, como professores, não costumamos ser bons em lidar com assuntos financeiros por exemplo. Além de outros assuntos administrativos e burocráticos.
Mas sempre podemos buscar aprender aquilo que sentimos dificuldade em fazer, até porque esse conhecimento será necessário mesmo para contratar alguém para fazer o que você não sabe ou não gosta.
Afinal, como avaliar se o profissional contratado está trabalhando bem se você não conhece o serviço que precisa que ele faça?
É aí que precisamos buscar cursos, aperfeiçoamentos, pesquisar com outros colegas de profissão para solucionar nossas dificuldades e moldar nosso modo de trabalhar.
Atenção: Você não precisa copiar ninguém, mas pode se inspirar e modelar o seu negócio!
Lidar de frente com o que não sabemos, reconhecendo que precisamos de ajuda e que não temos que ser perfeitos em todas as situações traz um grande alívio.
2ª Fase: fazer o melhor com o que você tem
Depois que você aceita que nem tudo vai sair redondinho, você para de esperar as condições favoráveis para fazer o que precisa ser feito.
Você começa a fazer o melhor com o que você tem no momento.
No início, é comum esperarmos o momento certo de nos expor na internet, esperar ter mais recurso para comprar um novo equipamento, esperava mais reconhecimento para fazer uma hora/aula melhor… e nada é feito.
A não ação em determinadas situações é pior do que tentar e errar, porque com o erro se aprende e isso não é clichê.
Inclusive, ajuda muito se você parar substituir “erros” por oportunidades de melhoria.
Porque quando você está começando a fazer algo que não sabe, cada erro acaba sendo não um fracasso, mas um treinamento para que você ganhe experiência e em breve comece a tirar de letra o que parecia ser impossível!
3ª Fase: lidar com os copos quebrados
Por fim, é importante e inevitável entender que nessa jornada nada é fixo nem permanente.
Cada dia é será uma rotina já conhecida, mas com brincadeiras diferentes.
Se houve sucesso, você se parabeniza pelo resultado e se algo não foi tão bom assim, você se trata com a gentileza de quem caminhou o possível hoje seguirá caminhando amanhã.
Ninguém deve ser mais gentil com você do que você mesmo, até porque é comum no empreendedorismo você receber os olhares de desaprovação e preocupação de amigos e família…
Afinal, você está pulando fora do sistema e se ariscando mais que o normal, então nada mais necessário do que você ser o seu melhor amigos quando as coisas não vão bem
Se hoje as coisas não saíram tão satisfatórias: volte uma casa e descanse.
Faça uma pausa, avalie e de novo, acesse o seu objetivo maior, o porquê de você estar fazendo isso tudo.
Há outras maneiras? Você conhece atalhos?
Há uma história budista que diz que em um mosteiro no Japão, era tradição dar um copo de cristal para que cada mestre tomasse sua água em seus aposentos.
Um dia, a monja encarregada da limpeza do quarto do mestre deixa cair o copo e o quebra em minúsculos pedacinhos.
Ela se desespera, recolhe os caquinhos e vai falar com o mestre.
Ela diz: “mestre, perdoe-me, mas derrubei e quebrei seu copo de cristal, estou pronta para receber a punição por esse meu descuido” ao que o mestre responde sorridente:
“Que bom! Agora terei um copo novo!”
Nosso caminho é justamente esse: sobre como lidar com os copos quebrados ao final do dia.
Podemos nos desesperar e achar que tudo está acabado e que seremos então punidos, ou podemos ter a certeza de que o que não saiu como deveria, deu espaço a uma ideia nova para ser colocada em prática.
Tudo entendido?
Agora, avance 5 casas.